quinta-feira, março 31, 2005
Last night a tuner saved my life from a broken car
Quase-preâmbulo
Há dias. Eixo Norte-Sul, sentido Sul, antes do Aqueduto das Águas Livres. Faixa do meio. 70 km/h. Estrategicamente posicionado ao meu lado, na faixa da direita, carro rebaixado, com molas de suspensão progressivas, iluminação da estrada por meio das luzes de néon, localizadas talvez no chassis, panelas com colectores de escape straight-through design, duplo tubo de escape de tipo boca-de-charroco com ponteira, pneus top performance Pzero Direzionale Yellow da Pirelli, jantes de liga leve 205/45 R 16, chip tuning, volante em pele tricolor fluorescente, pedais metalizados antiaderentes com respiradores espoletadores da condução em ponta-tacão, punhos do travão de mão em pele tricolor fluorescente, backets quitados, barra antiaproximação inferior quitada, aileron levantado meio metro em relação ao porta-bagagens, com abas supersónicas, tabelier quitado, cintos de segurança de quatro apoios.
Continuação da história
Há dias. Eixo Norte-Sul, sentido Sul, antes do Aqueduto das Águas Livres. Faixa do meio. 70 km/h. Estrategicamente posicionado ao meu lado, na faixa da direita, carro rebaixado, com molas de suspensão progressivas, iluminação da estrada por meio das luzes de néon, localizadas talvez no chassis, panelas com colectores de escape straight-through design, duplo tubo de escape de tipo boca-de-charroco com ponteira, pneus top performance Pzero Direzionale Yellow da Pirelli, jantes de liga leve 205/45 R 16, chip tuning, volante em pele tricolor fluorescente, pedais metalizados antiaderentes com respiradores espoletadores da condução em ponta-tacão, punhos do travão de mão em pele tricolor fluorescente, backets quitados, barra antiaproximação inferior quitada, aileron levantado meio metro em relação ao porta-bagagens, com abas supersónicas, tabelier quitado, cintos de segurança de quatro apoios.
Continuação da história
Condutor e respectiva acompanhante fazem sinais com as mãos. Pedem-me – entendo – para baixar o vidro.
Carrego no botão e o vidro desce. Reparo que têm o rádio sintonizado na Órbital.
Acompanhante. Com ar de semi-despreocupada. A apontar para o chão, semi-grita: “tens uma coisa debaixo do carro!”. Condutor. Ao lado. Com ar de “eu! eu!”. Intervém. Assustado, preocupado e ameaçador ao mesmo tempo. Com sede de espalhar sabedoria, berra: “PÁ, tu tens um saco de plástico enfiado no esqueleto da alavanca da maneta das velocidades! Cuidado!!”, enquanto gesticulava e abanava a cabeça. Com muita convicção.
Eu. Ao mesmo tempo que decifro a mensagem, tento manter o carro na faixa onde este se encontra. Levo a mão direita ao coração e vocifero: “Muito obrigada, muito obrigada. Obrigadíssima, obrigadíssima.” Assunto encerrado.
Assunto encerrado querias tu, fôfa. Um quilómetro à frente. Quase por baixo do Aqueduto das Águas Livres. Eu. Encostada à faixa da direita. Ainda a pensar no que significaria aquilo tudo. Ainda a pensar se virava para Alcântara e ia à Repsol tratar de saúde ou se não. Sentia insegurança. Saco plástico. Alavanca. Maneta. Morte. Tese. Ai. Sebem.
Tuner. Outra vez ao meu lado. Põe quatro piscas. Faz sinal para eu parar. Acompanhante-tuner. Calada, a olhar para a frente. Eu. Paro. Quatro piscas ligados. Tuner. Tadinho. Sai do carro. Manda-se para o chão. Deita-se na estrada, debaixo do meu carro. Tadinho. Tira o saco plástico do esqueleto da alavanca da maneta das velocidades. Ali fica dois minutos. Querido. Sai debaixo do carro. Vermelho do esforço. Esbaforido. Com o saco plástico na mão. Entrega-mo.
Eu. Levo a mão direita ao coração e vocifero: “Muito obrigada, muito obrigada. Obrigadíssima, obrigadíssima. Mesmo.” Tuner. Entra no respectivo carro. Acompanhante-tuner e tuner. No carro deles. Acenam. Eu. Aceno. Sem saber como mais agradecer. Sem saber que raio estava a agradecer. Saco de plástico na alavanca do esqueleto.
Proto-prólogo
Pode ser assim, o agradecimento: as boas pessoas também são tuneres.
Carrego no botão e o vidro desce. Reparo que têm o rádio sintonizado na Órbital.
Acompanhante. Com ar de semi-despreocupada. A apontar para o chão, semi-grita: “tens uma coisa debaixo do carro!”. Condutor. Ao lado. Com ar de “eu! eu!”. Intervém. Assustado, preocupado e ameaçador ao mesmo tempo. Com sede de espalhar sabedoria, berra: “PÁ, tu tens um saco de plástico enfiado no esqueleto da alavanca da maneta das velocidades! Cuidado!!”, enquanto gesticulava e abanava a cabeça. Com muita convicção.
Eu. Ao mesmo tempo que decifro a mensagem, tento manter o carro na faixa onde este se encontra. Levo a mão direita ao coração e vocifero: “Muito obrigada, muito obrigada. Obrigadíssima, obrigadíssima.” Assunto encerrado.
Assunto encerrado querias tu, fôfa. Um quilómetro à frente. Quase por baixo do Aqueduto das Águas Livres. Eu. Encostada à faixa da direita. Ainda a pensar no que significaria aquilo tudo. Ainda a pensar se virava para Alcântara e ia à Repsol tratar de saúde ou se não. Sentia insegurança. Saco plástico. Alavanca. Maneta. Morte. Tese. Ai. Sebem.
Tuner. Outra vez ao meu lado. Põe quatro piscas. Faz sinal para eu parar. Acompanhante-tuner. Calada, a olhar para a frente. Eu. Paro. Quatro piscas ligados. Tuner. Tadinho. Sai do carro. Manda-se para o chão. Deita-se na estrada, debaixo do meu carro. Tadinho. Tira o saco plástico do esqueleto da alavanca da maneta das velocidades. Ali fica dois minutos. Querido. Sai debaixo do carro. Vermelho do esforço. Esbaforido. Com o saco plástico na mão. Entrega-mo.
Eu. Levo a mão direita ao coração e vocifero: “Muito obrigada, muito obrigada. Obrigadíssima, obrigadíssima. Mesmo.” Tuner. Entra no respectivo carro. Acompanhante-tuner e tuner. No carro deles. Acenam. Eu. Aceno. Sem saber como mais agradecer. Sem saber que raio estava a agradecer. Saco de plástico na alavanca do esqueleto.
Proto-prólogo
Pode ser assim, o agradecimento: as boas pessoas também são tuneres.
segunda-feira, março 28, 2005
Though the world’s full of problems, they couldn’t touch us even if they tried
[lovely Stevie Wonder]
Esta semana, neste blogue, it's hotter than July.
Music is our radar
O mood swing inicia hoje a sua carreira musical, enquanto manda umas dentadas num bolo brigadeiro caseiro. A ver vamos onde é que isto vai dar. Como quase todos os recém-musicados, os meus agradecimentos vão para a minha rainha da blogosfera. Praise you, Char!
I know I won't be leaving here with you, ou talvez If you look closer, it's easy to trace the tracks of my tears
(ao centro, isso)
terça-feira, março 22, 2005
A existência é uma coisa muito séria – o Dia da Água é hoje
Pessoas com caspa social. Também há espaço para elas.
Dois anos de blogosfera – O Dia da Poesia foi ontem III
Maria Helena Mira Mateus – o Dia da Poesia foi ontem II e o Dia da Mulher foi há já bastante
Mas a belíssima entrevista à Professora Maria Helena Mira Mateus saiu na Única deste fim-de-semana que passou. O testemunho de uma existência imprescindível. Infelizmente, sem linque.
A existência é uma coisa muito séria – o Dia da Poesia foi ontem I
Joint-venturosamente, há espaço para todos: imbecis, espirituais, assassinos, ignorantes, sensuais, gordos, sarcásticos, bonitos, feios, góticos, Sebastião Alba, desconfiados, anoréxicos, cheiínhos, semis, ecologistas, comunistas, honestos, punks, pobrezinhos, coitadinhos, bem-de-vida, pedantes, desiludidos, religiosos, The Strokes, trapalhões, acreditados, carcinomáticos, carismáticos, irritantes, celulíticos, felizes, convictos, mimados, ponderados, palhaços, perfumados, amantes, infelizes, amores, víboras, fortes, dissimulados, deslumbrados, Clarice Lispector, amigos, de confiança, sexuais, perfeccionistas, amedontrados, falhados, fôfos, egoístas, destruidores, cínicos, cíclicos, clínicos, irónicos, apaixonados, estranhos, Agnostic Front, mutilados, multilados, ateus, refugiados, cobardes, monocelhas, trabalhadores, guerrilheiros, presumidos, esfomeados, despropositados, indigentes, imprescindíveis, fazedores de teses, Philip Seymour Hoffman.
sábado, março 12, 2005
Deus me perdoe
sexta-feira, março 11, 2005
11 M – España en nuestros corazones
quinta-feira, março 10, 2005
Parece-me que não há muito mais a fazer...
[«Ora, se assim é, talvez seja melhor acreditarmos que a aprendizagem é também independente da experiência. Se não preciso de me atirar de uma janela para saber que chego lá abaixo em más condições, também não será imperativo experimentar o sabor de um peixe molarengo para viver um dia de agonia intestinal. Assim como não me parece essencial visitar o Rio de Janeiro em Dezembro para saber que faz calor, não julgo ser fundamental atirar-me para debaixo de um comboio para perceber o desespero de Anna Karenina. Graças à ficção podemos andar à solta a descrever e a compreender situações extremas por que nunca passámos.» Continuar a ler aqui, claro. Em mais nenhum outro sítio..]
...que ler os escritos da charlotte, ao som dos belíssimos tangos com que a abençoada nos presenteia, e esperar, calmamente, pelo dia de amanhã.
...que ler os escritos da charlotte, ao som dos belíssimos tangos com que a abençoada nos presenteia, e esperar, calmamente, pelo dia de amanhã.
segunda-feira, março 07, 2005
Obrigada, minha santa
terça-feira, março 01, 2005
Momento Michael Douglas*
Uma praga e uma interrogativa retórica para todos os eunucos e todas as vacas frígidas que, na A2, sentido Sul-Norte, em chegando ali a bem antes da primeira ponte do Feijó, se enfiam na faixa da direita, e vão, em velocidade amena e descontraída, em direcção à saída para Almada, e que, um bocadinho antes, se enfiam, com um assobio nos lábios, outra vez para a esquerda, sentido Lisboa, comendo, enganando, desrespeitando e humilhando os demais camelos, que se encontram em velocidade parada desde a área de serviço do Fogueteiro - quem diz área de serviço do Fogueteiro diz segunda ponte do Feijó ou mesmo a já referida primeira ponte do Feijó, a merda é a mesma -, pensando, ao mesmo tempo que suscitam a situação em questão, que ninguém melhor do que eles existe para contribuir para a preservação da espécie, mas, mesmo assim não satisfeitos, vão, com muito orgulho, às urnas votar no PS, convictos de que assim é que o País vai positivamente mudar, sem que em algum momento lhes passe pela cabeça de que a urgência deste país não é um governo, mas sim que pessoas como os próprios (que em calhando até são as mesmas que deitam papéis, beatas e o que mais houver para o chão) desapareçam do mapa por meio de esmagamento através de um martelo gigante (sensívelmente 15 metros por seis), cuja parte que bate (não sei o nome) tenha espetos afiados, bem como - agora sou eu a sugerir - seja accionado por meio sensorial e que nunca falhe: ardam no inferno, seus descompensados sexuais. tá?
*linque acrescentado a pedido de algumas famílias.